terça-feira, 25 de junho de 2019

A Importância da África para a História do Brasil / L'importance de L´Afrique Dans L'Histoire Du Brésil

Olá, pessoal. Reconheço que ando em falta com o blog Coração Africano. Em razão de assuntos pessoais, acabei me afastando um pouco das publicações, mas agora tudo está se alinhando e conseguirei retomar ao compartilhamento do que aprendo aqui neste espaço.

O retorno ficará registrado com uma novidade que, para mim, Gláucia, é muito gratificante: meu artigo publicado numa revista de História de Fortaleza, Brasil. O resumo do texto está logo abaixo, para acessar o material completo, CLIQUE AQUI. Até breve.

A IMPORTÂNCIA DA ÁFRICA PARA A HISTÓRIA DO BRASIL

Gláucia Quênia Bezerra de Lima

Resumo


Durante muitos séculos, o continente africano foi negligenciado pelos europeus. Eles roubaram toda a herança que a África construiu dentro da cultura, filosofia e ciência tornando hegemônicas essas áreas. É importante que, com a fácil acessibilidade a referências que a tecnologia oferece hoje ao ser humano, os africanos do continente e da diáspora passem a alimentar-se do conhecimento deixado por seus antepassados. A África tem sua própria e rica História, mesmo antes da invenção da escrita. E quando se fala África, é tanto o norte do continente, acima do Saara, como a parte Subsaariana já que muitas pessoas não associam o Egito, por exemplo, como um país africano. Chegou a hora de conhecer a verdadeira história africana pelos próprios africanos e não pelos europeus, que tentaram e conseguiram deturpar totalmente quaisquer informações positivas sobre o continente berço da humanidade. Portanto, este artigo visa a ajudar o leitor a construir seu próprio senso crítico por meio dos autores que defendem a importância da África para a História do Brasil. 
PALAVRAS-CHAVE: História da África; ciência; cultura; diáspora;
Afrobetização
L'IMPORTANCE DE L'AFRIQUE DANS L'HISTOIRE DU BRÉSIL
RÉSUMÉ
Durant plusieurs siècles, le continent africain a été négligé par les européens. Ils ont volé l’héritage que l’Afrique a construit dans la culture, la philosophie et science, devenant eux-mêmes hégémoniques dans ces secteurs du savoir. Avec l’accès facile aux informations que la technologie offre, il est important que les africains du continent et de la diaspora s’alimentent des connaissances légués par leurs ancêtres. L’Afrique a sa propre riche histoire, avant même l’invention de l’écriture. Et quand il s’agit de l’Afrique, c’est à la fois le maghreb et la partie subsaharienne. L’heure est arrivé de connaître la vraie histoire du continent par les propres africains, car les européens ont tenté de detruire et d’ignorer l’héritage indiscutable du berceau de l’humanité. Cet article vise à aider le lecteur à construire son propre sens critique. 
MOTS CLÉS: Histoire de l’Afrique; Histoire du Brésil; Science; Culture; Afrodescendant

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Quilombo que vive em nós: fortalecimento, resistência, afeto


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No final de semana passado, dia 27 de outubro, o Grupo Bokási KMT teve o privilégio de vivenciar uma experiência incrível. Essa experiência maravilhosa foi proporcionada pela plataforma de hospedagem e viagem Diaspora.Black. O passeio foi regado a muito afeto e compartilhamento no Quilombo da Fazendo, localizado na região da Serra do Mar, litoral norte de São Paulo. A nossa guia foi Sol Barbosa, da Rota da Liberdade.

O primeiro momento de chegada foi marcado pela recepção que Dona Lurdes, quilombola, nos deu com seu afetuoso café da manhã e depois contou um pouco a história do Quilombo. Só vou contar um pouquinho porque indico mesmo é vivenciar a experiência. Ela nos contou que até meados de 1976, eles eram uma comunidade quilombola que vivia da pesca e da agricultura. A partir de 1976/1978, aconteceu o tombamento do local como Parque do Estadual da Serra do Mar. Desde então, eles vêm travando uma luta de resistência a respeito de reconhecimento. Várias conquistas já se efetivaram, e o que estão aguardando agora é o reconhecimento de quilombo do Governo. Em seguida, tivemos o prazer de assistir à apresentação do moçambicano Valdo tocando Timbila, instrumento tradicional no sul de Moçambique, província de Gaza.

Conversa com Dona Lurdes

Conversa com Dona Lurdes


Conversa com Dona Lurdes




 
O moçambicano Valdo nos ensinando a dançar ao som da Timbila

E teve quem se aventurou a tocar Timbila junto com Valdo



O passeio na praia também foi bastante gostoso. Uma praia pouco movimentada e com o privilégio de ter a Mata Atlântica como cenário circundando toda praia. Na volta para o alojamento, Dona Lurdes nos recebeu com um almoço delicioso quilombola.

Teve bebê aproveitando o passeio também. Lueji-Nyota.



O dia foi longo e gostoso, pois depois que almoçamos, a parada seguinte foi conhecer a roça e conversar com o Seu Zé Pedro. Ele é neto de escravo, seu avô era angolano e passou para ele todo o aprendizado de vida. Imaginem isso somado à experiência de vida do Seu Zé Pedro sendo passadas para todos nós ali… Ele contou toda a história de como os escravos chegavam, como começou o quilombo e ainda nos presenteou com fotos. Sempre muito bem humorado e sábio. Tivemos ainda a honra de participar de uma apresentação do jongo, mas infelizmente nem todos os vídeos foram possíveis de publicar.




Seu Zé Pedro






Todo o passeio foi acompanhado de uma energia muito boa de recordações que não tenho objetivamente em mente, mas senti no coração a presença do fortalecimento dos meus ancestrais que estiveram naquela região. Pensar a escravidão geralmente traz tristeza, mas se há uma maneira de ressignificar isso é pensar no quanto eles foram fortes e resistentes, o quanto trabalharam para deixar herança cultural e energia de fortalecimento para nós que estamos aqui hoje. Pensar neles de uma maneira ressignificada de que o nosso povo veio para este mundo para ser forte e não esmorecer por qualquer situação. E se eles tiveram toda essa resistência na ESCRAVIDÃO, por que vamos desanimar nas situações corriqueiras do dia a dia? Fica a relfexão…

Vale muito a pena conferir pessoalmente!



sexta-feira, 8 de junho de 2018

O tempo mítico e tempo social na sociedade africana


O homem africano é um ser histórico. E para quem estuda a história africana sabe que grandes obras vieram da capacidade criativa que nossos ancestrais deixaram para nós e usamos até os dias atuais. Tais criatividades estão bem visíveis aos nossos olhos. Para quem não estuda a história africana e tem pouco conhecimento sobre o que veio do continente-mãe é só olhar para as práticas agrárias, receitas de cozinha, medicamentos da farmacopeia, organizações políticas, produções artísticas, celebrações religiosas. Os africanos criaram seus próprios modos de ter uma sociedade, modos de pensamento e de vida. Sendo assim, criaram um modelo de sociedade.

O desenvolvimento de cada sociedade africana é concebido a partir da consciência histórica que os membros de cada sociedade têm de si. O que marca o singular desenvolvimento de cada sociedade em África é exatamente a concepção que os africanos têm de sua própria história. E eles dão valor aos saberes históricos para que suas sociedades sejam condicionadas estreitamente nesses saberes. Boubou Hama e J. Ki-Zerbo, no primeiro volume de História Geral da África, exemplificam essa consciência: "Assim, o rei dos Mossi (Alto Volta) intitulava-se Mogho-Naba, ou seja, rei do mundo, o que ilustra bem a influência das limitações técnicas e materiais sobre a visão que se tem das realidades sociopolíticas". Eles constatam, através deste exemplo, que o tempo africano é mítico e social às vezes, mas que os africanos sabem que são os responsáveis pela sua própria história. Até aqui percebemos que para nossos irmãos o tempo histórico é muito importante. Muitos de nós, africanos na diáspora e não africanos, que tivemos uma (des)educação ocidental, é um pouco difícil compreender o quão importante é o tempo histórico e o quanto ele influencia em nossas vidas atualmente.

Como já foi mencionado em outras conversas, para quem recebeu (des)educação ocidental a África é apenas um lugar mítico e ligado somente à natureza. Ledo engano. Ainda hoje há pessoas que imaginam que a África vive 'atrasada' enquanto o resto do mundo dispara em avanços históricos progredindo fervorosamente. O mito, de fato, é bastante presente no pensamento dos africanos com objetivo de desenrolar as histórias passadas da vida dos povos. Isso é levado tão a sério que pode influenciar nas escolhas e são baseados num modelo mítico que predetermina as ações das autoridades e do povo, é como um costume, faz parte do cotidiano das pessoas.

O tempo tradicional africano une a eternidade em todos os sentidos. O que hoje a (des)educação ocidental determina como moderno, para os africanos tradicionais é inválido porque para eles as gerações passadas são tão importantes quanto às atuais, uma se integra à outra, não existe a separação que a (des)educação ocidental nos ensina de que o antigo não serve para o contemporâneo. E essa integração faz com que os ensinamentos e costumes passados sejam bastantes influentes, se não mais importantes, de quando seus ancestrais viviam. A mecânica é a seguinte: o passado influencia o presente e o presente influencia o futuro. Se formos conversar com irmãos do continente que seguem suas tradições e formos fazer a eles alguma proposta, pode ser bem comum que eles nos respondam que antes de tomarem qualquer decisão vão consultar seus ancestrais. Nós, da diáspora, fomos literalmente roubados da nossa cultura sem qualquer sombra de dúvidas.
Os sonhos também são meios de tomar decisões muito significativas para os africanos. Antigamente, existiam funcionários das cortes que eram intérpretes de sonhos; eles tinham um peso considerável sobre a ação política, eram chamados de ministros do futuro. "No fim do século XVII, por exemplo, o rei ruandês Mazimpaka Yuhi III sonhou com homens de tez clara vindos do leste. Armou-se então de arcos e flechas, mas antes de lançar as flechas contra eles, guarneceu-as com bananas maduras. A interpretação desta atitude ambígua, ao mesmo tempo agressiva e acolhedora, introduziu uma imagem privilegiada na consciência coletiva dos ruandeses e talvez contribua para explicar a atitude pouco combativa desse povo, tradicionalmente aguerrido, face às colunas alemãs do século XIX, semelhantes aos pálidos rostos avistados durante o sonho real dois séculos antes." (Hama & Ki-Zerbo, História Geral da África, volume I).

Podemos ter três exemplos de como o tempo mítico pode tranquilamente ser favorável ao contemporâneo. Além disso, os acontecimentos podem ser obtidos ao grupo e não apenas a um indivíduo: (1) Lenda Gikuyu - essa lenda explica a chegada da técnica de fundição do ferro, um benefício para todos até os dias atuais. Segundo a lenda, Mogai (Deus) distribuiu os animais entre os homens e as mulheres. Mas as mulheres foram bastante cruéis com eles fazendo com que eles se tornassem selvagens. Os homens intercederam junto a Mogai em favor das mulheres dizendo que em honra a Mogai iam sacrificar um carneiro, mas este ato não ocorreria com faca de madeira para não repetirem os riscos das suas mulheres. Essa atitude foi considerada de grande sabedoria por Mogai e por isso ele ensinou os homens a receita da fundição do ferro. (2) O rei Shilluk era um depositário mortal que possuía poder imortal, já que totalizava em si o próprio tempo mítico (Ele encarnou o herói fundador) e o tempo social considerado como fonte de vitalidade do grupo. (3) Assim como com o rei Shilluk, entre os Bafulero (Zaire oriental), os Bunyoro (Uganda) e os Mossi (Alto Volta), o chefe é base de sustentação do povo, do coletivo. O Mwami está presente: o povo vive. O Mwami está ausente: o povo morre. A ausência do rei em decorrência de morte influencia fortemente o dia a dia do seu povo. É como se o tempo parasse as atividades, a ordem social, qualquer expressão de vida (riso, agricultura e até mesmo a união sexual dos animais e das pessoas). Percebe-se, portanto, que o rei não está ali somente para governar como estamos acostumados a ver nas sociedades ocidentais, ele também é fundamental para a questão espiritual do povo que está sob sua responsabilidade. Até que chegue um novo rei para substituí-lo, tudo fica estático. Tudo é onipresente nesse tempo intemporal do pensamento animista, no qual a parte representa e pode significar o todo. Por exemplo, os cabelos e unhas que se impedem de cair nas mãos dos inimigos por medo de que estes tenham poder sobre a pessoa. Ou seja, esses elementos (cabelos e unhas) podem ser fortemente usados pelo inimigo dessa pessoa que os deixou cair porque tem a essência dessa pessoa nos elementos.

Não é tão fácil compreender o significado de tempo para os africanos tradicionais. Veja o trecho a seguir que deixo na íntegra retirado do primeiro volume da coleção História Geral da África, página 27 em PDF e página 83 do arquivo. "De fato, é preciso atingir uma concepção geral do mundo para entender a visão e o significado profundo do tempo entre os africanos. Veremos então que no pensamento tradicional, o tempo perceptível pelos sentidos não passa de um aspecto de um outro tempo vivido por outras dimensões da pessoa. Quando vem a noite e o homem se estende sobre sua esteira ou sua cama para dormir, é o momento que seu duplo escolhe para partir, para percorrer o caminho seguido pelo homem durante o dia, frequentar os lugares que ele frequentou e refazer os gestos e os trabalhos que ele realizou conscientemente durante a vida diurna. É no curso dessas peregrinações que o duplo se choca com as forças do Bem e do Mal, com os bons gênios e com os feiticeiros devoradores de duplos ou cerko (em língua songhai e zarma). É no duplo que reside a personalidade de cada um. O songhai diz que o bya (duplo) de um homem é pesado ou leve, querendo significar que sua personalidade é forte ou frágil: os amuletos têm como finalidade proteger e reforçar o duplo. E o ideal é chegar a confundir‑se com o próprio duplo, a fundir‑se nele até formar uma só entidade, que ascende assim a um grau de sabedoria e de força sobre‑humano. Somente o grande iniciado, o mestre (kortekonynu, zimaa) atinge esse estado em que o tempo e o espaço não constituem mais obstáculos. Era esse o caso de SI, o ancestral epônimo da dinastia: “Assustador é o pai dos SI, o pai dos trovões. Quando ele está com uma cárie, é então que mastiga cascalhos; quando está com conjuntivite, é nesse momento que, resplandecente, acende o fogo. Com seus grandes passos, ele percorre a terra. Ele está em toda parte e em parte alguma”.

Vimos que o tempo mítico e tempo social é fortemente vivo na vida dos nossos irmãos que segue a tradicional forma de vida africana. Mas, leitor, tenha cuidado para não pensar que os africanos só vivem do tempo mítico para justificar o social, pois se assim fosse o mito seria um condutor de uma história imóvel, que ficaria sempre na mesmice. E isso não é verdade. Em nossa próxima conversa, vamos conversar um pouco mais sobre isso de forma que não fique em sua mente que o pensamento africano se baseia apenas no que é mítico.



Fonte: História Geral da África, volume 1 – Capítulo 2 – Autores: Boubou Hama e J. Ki-Zerbo.

Nota: todos os textos deste blog são baseados em fontes dedicadas ao tema. A intenção do Coração Africano é apenas compartilhar o aprendizado que adquiri no dia a dia. O Blog não serve como fonte de pesquisa. Por isso, sempre terá a fonte de onde as informações foram extraídas.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

Exposição Ex-África CCBB

O Centro Cultural Banco do Brasil está com uma exposição maravilhosa sobre África. A exposição se chama Ex-África. É uma parceria junto ao Ministério da Cultura que visa a mostrar a arte africana contemporânea aqui no Brasil.
A exposição traz um panorama da produção artística da África atual e seu impacto no mundo. São mais de 80 obras compostas por fotografias, pintuas, esculturas, performances e vídeos. É importante todos os afrodescendentes visitarem a exposição para termos em mente o quanto o continente-mãe tem de contribuição na formação da identidade brasileira.
O vídeo abaixo é um dos que está na sala dedicada aos sons do oeste africano. Som gostoso demais.


Pude tirar algumas fotos, sem flash, mas não vou deixá-las aqui para que se sintam instigados a fazer uma visitinha na exposição. Vale muito a pena. Ela vai até dia 16 de julho, de quarta a segunda. Tem como fazer visita guiada. Clique aqui para mais informações.



quarta-feira, 23 de maio de 2018

Apresentando África. Um pouquinho da sua geografia.


Muitas dúvidas surgem quando se fala no continente africano. Há quem pensa que a África é um país, talvez façam confusão com o país africano chamado África do Sul. Porém, o continente africano tem 54 países hoje. Hoje, porque antes de o continente ser invadido pelos europeus, as terras africanas eram dividias por impérios. Segundo Wikipedia, o Império do Mali, em 1350, compreendia os atuais países Mali, Senegal, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau e Burkina Fasso. Portanto, a colonização acabou com essa forma de divisão; e isso aconteceu definitivamente na Conferência de Berlim em 1885.


 
Império do Mali e Mapa atual da África

Falando especificamente após esta divisão, hoje a África é composta na história por duas partes. Alguns historiadores falam que a Geografia do continente fez com que ele fosse dividido em África Mediterrânica e África Subsaariana (BRITO & FABRICIO, 2012, p. 14). O intercâmbio cultural com os povos mediterrânicos (fenícios, romanos, árabes, judeus) fez com que influenciassem bastante na África do Norte. Inclusive, outra informação importante para nós que gostamos de aprender sobre nossa casa e desconstruirmos cada vez mais termos de historiadores ocidentais é que ao falarmos, geograficamente, sobre o continente africano, podemos também nos referir à África do Norte como Magrebe e África subsaariana em razão do deserto do Saara que faz a divisão entre essas duas regiões. Nos termos ocidentais, referem-se à parte Norte como África Branca e à parte Sul como África Negra ou Subassariana, neste último, opto por subsaariana porque falo literalmente sobre a parte geográfica.

Localização do Deserto do Saara. Ilustração: AridOcean / Shutterstock.com [adaptado]. Site: InfoEscola

Os países que compõem o Magrebe são o atual Egito, Tunísia, Argélia e Marrocos. Já a outra parte da África, a subsaariana, separada pelo deserto do Saara é caracterizada pela sua diversidade étnica, linguística e religiosa. Mas não podemos deixar de levantar a questão de que independentemente da Geografia, as duas partes influenciaram, sim, uma a outra. Segundo M. Amadou Mahtar M’Bow, “durante muito tempo, o continente africano quase nunca foi tratado como uma entidade histórica. Em contrário, enfatiza-se tudo o que pudesse reforçar a ideia de uma cisão que teria existido, desde sempre, entre uma ‘África branca’ e uma ‘África negra’ que se ignoravam reciprocamente. Apresentava-se frequentemente o Saara como um espaço impenetrável que tornaria impossíveis misturas entre etnias e povos, bem como trocas de bens, crenças, hábitos e ideias entre as sociedades constituídas de um lado e de outro do deserto. Traçavam-se fronteiras instransponíveis entre as civilizações do antigo Egito e da Núbia e aquelas dos povos subsaarianos. Certamente, a história da África norte-saariana esteve antes ligada àquela da bacia mediterrânea, muito mais que a história da África subsaariana, mas, nos dias atuais, é amplamente reconhecido que as civilizações do continente africano, pela sua variedade linguística e cultural, formam em graus variados as vertentes históricas de um conjunto de povos e sociedades, unidos por laços seculares” (2010, p. XXII apud BRITO, Edilson Pereira & FABRICIO, Edison Lucas, p. 15)
Mas vamos falar do continente num todo. Os dígitos apontam que o território africano tem 30.259.752 km². É o terceiro maior continente, pois antes dele ainda tem a Ásia e América. África tem um formato triangular e seus limites estão ao Norte com o Mar Mediterrâneo; a leste o Oceano Índico e a oeste o Oceano Atlântico. Geralmente, as pessoas que não conhecem bem a África, associam o continente apenas à sua beleza natural e diversidade de animais imaginando que as pessoas que vivem naquele continente criam em suas casas elefantes, onças, girafas como animais de estimação. É absurdo essa ignorância, pior ainda é permanecer nela, reproduzi-la mesmo tendo meios de se informar melhor.
O continente possui alguns desertos e semidesertos, sendo os maiores os Saara, com uma área total de 9 065 000 km². Sua alta temperatura o faz ser conhecido mundialmente e ainda ocupa o terceiro maior deserto da Terra. Ele é tão grande que compreende muitos países da África do Norte: Argélia, Chade, Egito, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos, Níger, Saara Ocidental, Sudão e Tunísia.

Fonte: Viajadona

O deserto Namibe também está na lista dos maiores da África. Localiza-se ao sudoeste do continente, entre sul de Angola e norte da África do Sul. É bastante quente e formado por inúmeras dunas, encostas e planícies. Sua área ultrapassa 30 mil km².


Deserto do Namibe. Fonte: Wikipedia

Ainda, na lista dos maiores desertos africanos, está o Kalahari, localizado na África Austral. Ele abrange partes de Angola, do Botswana, Namíbia e África do Sul.



Deserto Kalahari. Fonte: Wikipedia

Outra curiosidade sobre a Geografia africana e que poucos sabemos é que por ter várias falhas tectônicas, e dessas falhas é que nasceram os grandes lagos Vitória, Tanganika e o Malawi. O tamanho delas é bastante considerável, podendo chegar a 80 quilômetros de largura e centenas de metros de profundidade.

Lago Vitória. Fonte: Wikipedia

Lago Tanganika. Fonte: Dreamstime

Lago Malawi. Fonte: Aquarismo Online

Vale do Rift. Aqui estão localizados os três lagos citados anteriormente. Fonte: WikiandVale do Rift 

Bom, pessoal, por enquanto é isso. Eu quis compartilhar com vocês um pouco, bem pouco sobre a maravilhosa geografia africana. Digo bem pouco porque nosso continente-Mãe é muito grande, lindo e maravilhoso. Em um post seria impossível falar de tudo, mas quem tiver e quiser somar com o blog, pode postar nos comentários mais informações ou enviar para o e-mail para que possa ser postado aqui com os devidos créditos.

Até breve!


FONTES EXTRAS: 

BRITO, Edilson Pereira; FABRICIO, Edison Lucas. História da África e dos Africanos: dos primórdios ao período pré-colonial. Indaial: UNIASSELVI-PÓS EAD, 2012.

sábado, 10 de março de 2018

Primeira universidade do mundo nasceu no Mali, África. Madraça (kemetiano) Universidade (ocidental)

Madraça é o nome do local onde aqui no ocidente chamamos de universidade. O termo é  kemetiano. Além de ser um centro de estudos, também é o local onde os muçulmanos fazem suas práticas, a conhecida Mesquita. 

“O que definimos como cultura ocidental é a vivência e educação por base na Filosofia Greco-Romana, Espiritualidade Judaico-Cristã, Modelos político e econômico que está na Revolução Francesa e Industrial” (NOGUERA, Dr. Renato, 2016 / Tempo no vídeo: 29 min a 1:15:30). 

Dentre as diversas valiosas iniciativas de cunho cultural e científico que a África nos ofereceu e oferece está a madraça. A cada descoberta de que algo surgiu no continente africano, me sinto mais orgulhosa e feliz pela nossa riqueza em TODOS os aspectos.

Localizada em Tombouctou (em francês), no Mali, oeste africano, madraça é um centro de estudos. Fica no continente africano, portanto, os três centros de estudos mais antigos do mundo. Sim, do mundo! A famosa Universidade de Tombouctou é composta por essas três mesquitas: Djinguereber, Sidi Yahya e Sankore.

Sidi Yahia mosque, 15th century, Timbuktu, Mali. Photo: MINUSMA/Sophie Ravier


SidiYahya – é uma mesquista e madraça. Mesquista é o local de culto dos seguidores do Islã. Sua construção foi concretizada no ano de 1440. O templo teve seu fim em 2012 com a  Batalha de Gao e Tombouctou.

Djinguereber - Photo: upiernoz


Djinguereber -  também é uma mesquita. Foi construída em 1327. Seu design foi feito especialmente para o imperador do Império do Mali e foi pago em ouro. OURO!

Madraça de Sankore - Wikipedia - Photo KaTeznik

Sankore – Esta mesquita é a mais antiga dos três centros de ensino de Tombouctou. Foi construída em 1300. Sua reconstrução aconteceu em 1581. E pra animar mais ainda, foi uma MULHER que financiou a construção da Mesquita de Sankore. Essa mulher era filha de comerciante. Eles eram tão ricos, mas tão ricos, que ela resolveu investir sua fortuna na construção de uma madraça. Investimento melhor não há, concordam? Investir em conhecimento nunca é demais.


*Todas as referências dos textos deste blog são citados ou como link ou numa relação feita após o fim do texto.